sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Refutações ao conceito de livre-arbítrio como o fundamento do amor genuíno


De acordo com os arminianos, não existe amor sincero e genuíno à parte da liberdade, isto é, do livre-arbítrio. Uma das grandes críticas dos arminianos à soteriologia calvinista é que "no calvinismo, Deus cria robôs programados para serem salvos ou se perderem. De forma que, por exemplo, não existe relacionamento de amor sincero entre Deus e os que foram escolhidos para serem salvos". Em outras palavras, para o arminiano, Deus predestinar incondicionalmente um homem para a salvação significa dizer que não há amor genuíno entre esse predestinado e Deus. Normalmente, essa critica arminiana é acrescentada pela falácia de que "no calvinismo, Deus violenta a liberdade e a vontade da criatura para que esta  seja salva". É como se a pessoa não quisesse ser salva, e Deus violentasse tal querer dizendo "não, você será salvo". Para os arminianos, os homens só não irão ter suas vontades violentadas enquanto existir neles o poder do livre-arbítrio. Ora, as objeções arminianas são ilógicas, e é isto que demostraremos agora.

O arminiano diz: "No calvinismo, Deus cria robôs programados para serem salvos ou se perderem"

Resposta: Essa afirmação arminiana não faz o mínimo de sentido. Por quê? Porque ao contrário dos robôs, o homem tem uma consciência,  sentimentos, vontades, desejos etc. Isto por si já refuta a proposição arminiana. Além do mais, apesar do homem não ser livre dos decretos divinos, ainda assim ele tem vontades e escolhe agir de acordo com sua natureza que, após a queda, encontra-se decaída(Lc 6:43). Digamos que o homem tem uma vontade condicionada, e não totalmente livre. O homem quando peca, quis pecar. O pecado é algo no qual a natureza humana se deleita(Rm 3). O homem, após a queda, perdeu a sua capacidade de obediência aos mandamentos divinos(Gn 8:16) Somente mediante a operação divina, através da vivificação, é que tais homens poderão escolher obedecer os mandamentos de Deus(Ef 2, Jo 5:21, 6:44). Ora, respondida a primeira objeção, partiremos para a próxima que irá requerer  uma atenção maior.

O arminiano diz: "Não existe relacionamento de amor sincero e genuíno sem a liberdade".

Resposta: Primeiramente, não é o arminiano quem define o que é amor sincero. Qual é o padrão último pelo qual as proposições cristãs devem buscar fundamentação? É A ESCRITURA. Portanto, é a bíblia quem define o que é amor sincero ou não. E não encontramos em lugar algum da escritura fundamento para a afirmação arminiana de que o amor genuíno vem da liberdade. A bíblia diz que o amor vem de Deus. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo diz que "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, E DE AMOR, e de moderação"( 2 Tm 1:7).  Quem nos deu um espírito disposto a amar? O texto nos responde:  Deus nos deu, não o próprio homem! Ora, o homem não pode amar se não for capacitado por Deus primeiramente. O amor genuíno vem de Deus, não do homem. A disposição de amar é dada pelo próprio Senhor, visto que nenhum homem pode amar genuinamente a Deus à parte de uma transformação em seu coração(Ez 36:26,27). A liberdade da vontade não define a validade do amor; Deus em quem define. Portanto, o fundamento do amor autêntico é Deus, não a liberdade humana.

É bem verdade que o arminiano responderia  essas colocações evocando a ideia de que Deus daria ao homem uma graça preveniente que proporcionaria as condições necessárias para o exercício da "liberdade como o fundamento do amor genuíno". Para Armínio, o Senhor Deus, levando em conta a incapacidade humana de corresponder a Sua vontade, teria derramado sobre todos os homens que são alcançados pela pregação, a sua graça salvífica para que por fim sejam eles capazes de amar a Deus livremente. Esta graça seria capacitadora e dependeria, em última instância, da decisão humana para que os efeitos salvíficos  dela fossem de fato realizados. A graça preveniente despertaria os homens de sua morte espiritual dando a eles condições de responderem ao chamado de salvação. Essa posição parece fazer bem ao nosso ego, mas ela, quando analisada em profundidade, não pode esconder suas falhas e incoerências. 

Ora, está claro que a finalidade de se evocar a graça preveniente, nos moldes arminianos, não é outra senão a de proteger "a liberdade humana como fundamento do amor genuíno". Mesmo com a graça preveniente, continua em questão a máxima arminiana de que "para que haja amor verdadeiro e responsabilidade moral, os homens devem(por necessidade) ser livres".  Em última instância, o que importaria para o arminiano seria a preservação da liberdade como fundamento do amor sincero. A graça preveniente não seria o fundamento do amor, mas seria apenas UM MEIO para se chegar ao fundamento que é a liberdade.

A falha teológica da concepção de graça preveniente nos moldes arminianos é que, se Deus derramou essa graça sobre todos os que escutam o evangelho, a consequência lógica seria que não existem mais os ignorantes, cegos e mortos espirituais. Todos agora podem ir a Deus, pois, mediante a graça preveniente, entendem as implicações da mensagem do evangelho. Só que isto contraria frontalmente Rm 3:11, quando o apóstolo diz: "Não há quem entenda, não há ninguém quem busque a Deus". Essa posição também contraria as nossas experiências de evangelismo, que demostram o alto nível de cegueira, ignorância e escravidão espiritual dos homens à medida que pregamos para eles. Claro, não estamos evocando a experiencia para fundamentar a escritura, é justamente o contrário; é a escritura que fundamenta esta realidade. Desta forma, textos como por exemplo o de Tito 2:11, que afirmam que a graça se manifestou salvadora a todos os homens, referem-se ao fato de que Deus não salva pessoas de  apenas uma raça, povo ou língua; mas que também salva pessoas de todas as nações do mundo. Em outras palavras, Deus tem seus escolhidos em TODOS os cantos da terra. Isto corrobora com o que o próprio Cristo falou em Jo 10:16 quando diz: "Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor". O Senhor escolheu pessoas(ovelhas) de TODOS os tipos, ou de TODOS os lugares da terra; é neste sentido que a graça manisfestou salvação a todos os homens. Ademais, nem mesmo para o arminiano a graça salvífica é estendida a todos sem exceção. A graça salvífica, para o arminiano, é acompanhada pelo ato da pregação do evangelho, e sabemos que nem todos ouviram ou ouvirão o evangelho. E nisto o arminiano está correto, pois à parte do evangelho não há salvação, visto que Deus decretou salvar os crentes pela loucura da pregação(1 Co 1:21)

A segunda falha que podemos encontrar nessa concepção de graça no arminianismo é que, para Armínio, a graça regenera parcialmente o homem tirando este de seu estado de incapacidade e transportando-o para uma condição de capacidade em atender as exigências do evangelho.No entanto, a regeneração parcial é anti-bíblica, pois não há nenhuma regeneração desse tipo na escritura. Não existe transformação parcial, ou pela metade. O que existe é uma transformação eficaz, que de fato concede vida ao pecador ressuscitando-o de seus pecados(Ef2:1).O  homem não ressurge(regenerado parcialmente) para ser capaz de crer e, depois, escolher não crer para morrer espiritualmente de novo. O homem não se encontra em um estado de vivo-morto, morto-vivo. Ou ele está vivo e crê, ou está morto e por isso não crê. A obra de Cristo é poderosa; ela não é imperfeita ou feita pela metade. A bíblia refuta o conceito de regeneração parcial quando diz que os nascidos de Deus creem em Cristo(1 Jo 5:1), e não pecam deliberadamente(1 Jo 3:9). O raciocínio é simples: se creu de verdade em Cristo, foi nascido de Deus; se não creu de verdade ou permaneceu incrédulo, nunca foi nascido de Deus(1 Jo 2:19). Não existe meio termo, ou é, ou não é.

A verdade é que o arminiano jamais poderá explicar de forma coerente o que faz com que alguns que foram regenerados parcialmente(segundo a concepção arminiana) rejeitem o evangelho, e outros aceitem. Qual é a causa da aceitação de alguns e da rejeição de outros? É sabido de muitos que os arminianos tem pavor quando escutam o termo "causação". Entretanto, se as decisões humanas não são resultados da condição humana interior, o que causa então essas decisões?  Se a escolha não é causada por algum componente encontrado em nossa própria natureza, então ela é uma escolha no vácuo, sendo assim, por que eu seria responsabilizado por tal escolha? A verdade é que nossas decisões são causadas pela nossa condição interior,  e isto é respaldado pelo próprio Cristo quando disse que "uma árvore boa dá bons frutos, uma árvore má dá maus frutos"(Mt 7:17). Aqui está claro que, para Cristo, eu dou bons frutos(obedeço) quando JÁ SOU UMA BOA ÁRVORE, isto é, quando sou regenerado. Mas, quando não dou  bons frutos(desobedeço deliberadamente), NÃO SOU, ou AINDA NÃO ME TORNEI UMA ÁRVORE BOA, ou seja, não sou, ou ainda não me tornei um regenerado. A escritura não concede margens para se pensar em algum tipo de regeneração diferente. Desta forma, o arminiano falha em sustentar biblicamente a sua concepção de graça preveniente, e também falha em buscar fundamentar o amor genuíno na livre decisão ou liberdade humana por meio dessa graça. 

Uma questão crucial na teologia arminiana é que  Deus, segundo essa teologia, ama mais a liberdade do que a própria criatura. Se você estiver argumentando com um arminiano ele por vezes dirá que sua teologia busca proteger o caráter amoroso de Deus por suas criaturas. Mas a verdade é que o arminianismo não passa de uma tentativa humanista de tentar justificar as ações soberanas de Deus. Sabemos o fato de que Deus não depende de defesa nenhuma, muito menos precisamos tentar justificar as ações Dele a quem quer que seja. Muito menos seu caráter amoroso fica em xeque quando defendemos a Sua soberania absoluta. O erro do arminiano é acreditar  que o livre-arbítrio  resolve ou isenta Deus das más ações das criaturas. Um exemplo nos ajudaria a entender que o livre-arbítrio não resolve coisíssima nenhuma quando o assunto é a questão do mal. Ora, suponhamos que um grande amigo seu, caro leitor, o qual você diz amar e que daria a vida por ele, estivesse com um veneno em mãos para tomar e tirar a própria vida. Agora imagine você tendo todas condições possíveis para evitar com que seu amigo, o qual você ama, tome esse veneno e morra, e mesmo assim você nada fazer. Se esse seu amigo tomasse o veneno nessa situação você não se sentiria culpado também? Provavelmente, a sua resposta seria um sonoro SIM visto que você poderia ter evitado e nada fez. Você foi omisso, seus sentimentos de consideração e amor pelo seu amigo seriam colocados em duvidas por todos. Até mesmos as leis humanas, manchadas pelo pecado, enxergariam sua culpa(omissão em muitos casos, configura-se num crime). Bom, agora troque a palavra "você" por "Deus", e "amigo" por "seres humanos". Na teologia arminiana temos Deus como Todo-Poderoso e os seres humanos que comentem as mais diversas barbaridades. Deus, por ser Todo-Poderoso, pode ou poderia ter evitado as atitudes malignas dos homens, mas mesmo assim nada faz pois respeita a liberdade da criatura. Aqui fica mais do que comprovado o fato de que Deus, no arminianismo, ama mais a liberdade do que a própria criatura. Logo, a teologia arminiana não se preocupa com o caráter amoroso de Deus para com todas as criaturas, mas com o seu caráter amoroso para com a liberdade humana. Dessa maneira, a liberdade não resolve nada quando o assunto é as ações pecaminosas dos homens; apenas muda o problema de lado. Para o arminianismo, Deus no calvinismo é culpado de ser o "autor praticante da maldade" por ter decretado o mal; o que não é verdadeiro. Só que como já demostrado, o livre-arbítrio em nada resolve o problema, pois Deus no arminianismo poderia ser acusado de omissão, visto que nada fez quando poderia ter feito. Você seria capaz de chamar Deus de omisso, caro arminiano?

Observação: Não oferecerei aqui uma defesa abrangente da relação "Deus e o mal" segundo o meu entender como calvinista. Farei isto numa outra oportunidade, querendo Deus. Por enquanto, recomendo apenas o texto "O que penso sobre o decreto da queda". Neste texto demostro rapidamente a minha posição quanto a atuação e relação Divina com o pecado humano, em especial o  pecado de Adão.

O arminiano diz: "No calvinismo, Deus violenta a vontade da criatura para que esta seja salva ou condenada"

Resposta: Na verdade, o arminiano quando levanta essa objeção, não percebe em quão grande contradição está caindo. Ora, se para o arminiano o calvinismo faz dos homens apenas robôs que são manipulados por Deus, não faz sentido dizer então que "Deus violenta a vontade do homem". Ora, robô por algum acaso tem alguma vontade para ser violentada? Os arminianos devem decidir se de fato a teologia reformada faz dos homens robôs manipulados, ou não. Se o homem tem sua vontade violentada então, por definição, ele tem uma vontade que está sendo violada. Logo, não pode ser um robô.

Como também, esta objeção já foi respondida por vários calvinistas e até mesmo por mim. A teologia reformada não ensina que o Espírito Santo regenera ou transforma as pessoas forçando a vontade delas. O termo "forçar" implica "relutância" da parte de quem está sofrendo a ação. Mas, como não há relutância no momento da regeneração, como então o arminiano poderá dizer de forma consistente que a vontade da criatura está sendo forçada? Ademais, por algum acaso a graça preveniente arminiana força a criatura pelo simples fato de Deus não ter consultado as criaturas para aplicá-la? No arminianismo as pessoas são regeneradas parcialmente apulso e tendo suas vontades caídas violentadas pela regeneração parcial? Creio que o arminiano dirá que não. De forma que, o milagre da salvação no calvinismo, é apenas uma transformação da condição humana, nada mais que isto. O relacionamento entre Deus e o eleito é de amor verdadeiro e genuíno, visto que este amor parte de Deus que é o fundamento de Tudo.

Assim sendo, podemos concluir afirmando que a Escritura é a base pela qual as proposições cristãs devem ser sustentadas. Desta forma, o amor genuíno tem por fundamento o próprio Deus, não o livre-arbítrio.  Que a graça preveniente a qual, segundo o arminianismo, concede liberdade aos homens, é incoerente. Sendo então incoerente(pelas razões já demostradas), não pode ser um meio consistente que conduz o homem para o fundamento do amor genuíno que, segundo os arminianos, é a liberdade.  Que o homem, mesmo não tendo liberdade, ainda assim não pode ser comparado a um robô. Que a graça salvífica, segundo o entendimento calvinista, não força de nenhuma forma a vontade da criatura, mas opera milagrosamente sobre ela. E que Deus, na concepção arminiana, ama mais a liberdade do que a própria criatura.

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Afinal, pode um morto espiritual ter fé?(Uma análise de João 5:25)



Alguns cristãos com tendencias pelagianas, buscando sustentar sua fraca teologia, se utilizam da passagem  de João 5:25 para fundamentar a ideia de que o homem, em seu estado natural, pode crer no evangelho à parte da graça de Deus. A proposição pelagiana fundamentada no texto em análise é que "está claro no texto a ideia de que o homem morto espiritual pode ouvir e crer no evangelho". Será mesmo este o real sentido do texto? Ora, é inegável a clareza  da passagem em dizer que os "mortos ouvirão", mas seria então isto um fundamento para a proposição pelagiana de salvação à parte da graça mediante o convencimento do Espírito Santo? Isto é o que veremos agora.

João 5:25 diz: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão".

Ao interpretar uma passagem da escritura, deve-se levar em conta o contexto imediato e remoto de tal passagem. Quando Cristo faz a afirmação de que os "mortos ouvirão a sua voz", ele não poderia estar contradizendo a Si mesmo quando, em outro lugar, diz: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6:44). Ora, se crermos na inerrância bíblica, não podemos interpretar  que em uma passagem Cristo afirmou que os homens naturais podem por si mesmos ouvir a sua voz, enquanto que em outro lugar Ele diz que o homem só pode ouvir caso o próprio Deus o traga para Cristo. A bíblia é a palavra de Deus, ela não se contradiz.

Em toda a bíblia somos avisados da incapacidade do homem natural de guardar os mandamentos divinos. Esta é a realidade do homem após a queda de Adão; entretanto, é bem verdade que nem sempre foi assim. O homem, antes da queda, tinha uma natureza livre do pecado(Ec 7:25). Após a queda isto muda; o homem passa a ter uma natureza inclinada ao pecado. Em Gn 8:16, a escritura nos revela que após a queda "a imaginação do coração do homem se tornou má desde a sua meninice". O apóstolo Paulo com  maestria descreve esta situação de incapacidade na sua carta aos Romanos, com destaque para o capítulo 3. No versículo 11 deste capítulo, o apóstolo afirma: "não há quem entenda; não há ninguém que busque a Deus".  Aqui estão as provas de tal incapacidade; uma teologia séria jamais irá desconsiderar a realidade da doutrina da inabilidade e depravação dos seres humanos. O mesmo apóstolo declara novamente a incapacidade humana de entender as coisas de Deus, quando, em 1 Co 2:14, diz:"o homem natural não compreende a mensagem do Espírito Santo, pois lhe parecem loucura(...)".  Existem vários outros textos bíblicos que confirmam tal incapacidade e depravação, mas esses já são suficientes para comprovar o que queremos argumentar.

Considerando essas verdades já expostas, como então podemos interpretar Jo 5:25?

Ora, primeiramente lembremo-nos que a expressão "morto espiritual" é uma referência ao estado de incapacidade e depravação que já falamos acima. O homem é naturalmente incapaz de ir à Deus; de escolher a salvação; de obedecer a Cristo. Não negamos  a verdade de que os homens sem Deus fazem escolhas, entretanto, tais escolhas são inclinadas e condicionadas ao pecado. Em outras palavras, o homem morto espiritual, isto é, em seu estado natural depois da queda, não quer escolher outra coisa senão o pecado, não existe um arbítrio livre, mas sim cativo. Em segundo lugar, o texto não diz que os mortos irão ouvir a voz de Cristo pelo seu próprio poder e capacidade natural. Crer assim significa afirmar que a bíblia é contraditória, visto que ela afirma justamente o contrário, isto é, que os homens mortos espirituais não podem crer. Da mesma forma que Lázaro não podia ressuscitar fisicamente a si mesmo, sendo preciso Cristo ressuscitá-lo, assim também  é com a morte espiritual. Em terceiro lugar, o texto não está tratando das especificidades da atuação de Cristo e do Espírito Santo no ato salvífico do morto. O texto apenas afirma que "quem ouvir, viverá". De forma que, levando em conta o contexto imediato da passagem e também o contexto geral da escritura, três perguntas podem ser feitas ao versículo:

1. Quem ouvirá? 

2. O que Cristo primeiramente fará para que os mortos ouçam e creiam? 
3. O que acontecerá quando eles ouvirem?

1. Quem ouvirá? 

Resposta: O contexto imediato da passagem de Jo 5:25 está tratando da cura de um enfermo efetuada por Cristo junto ao tanque de betesda(Jo 5.2-9). Cura esta que provocou a ira do judeus que passaram a perseguir a Cristo por entenderem que o Senhor era um descumpridor da lei ao ordenar que o homem curado levasse o leito num dia de sábado(vers.11). Outra crítica dos judeus era que Cristo se colocava no mesmo patamar de autoridade do Pai(vers.11-18). Como resposta aos judeus, Cristo prontamente inicia a sua argumentação  afirmando sua autoridade junto ao Pai(vers.19-23). No meio dessa argumentação, antes do dito do versículo 25, Cristo, no verso 21, responde a nossa primeira pergunta quando diz : "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica AQUELES QUE QUER". Aqui está a resposta para nossa primeira pergunta. Cristo concede vida espiritual àqueles que ELE SOBERANAMENTE QUER CONCEDER VIDA ESPIRITUAL. A vivificação para a salvação é soberana e não depende da vontade do morto espiritual, pois se dependesse, o tal jamais ressurgiria espiritualmente. Logo, de acordo com o contexto, os que ouvem são aqueles que são primeiramente vivificados por Cristo.


2. O que Cristo primeiramente fará para que os mortos ouçam e creiam?

Resposta: A resposta para esta pergunta também já fora respondida em nossa resposta à primeira pergunta. Ora, os mortos que crerão em Cristo, de acordo com o contexto da passagem, assim farão porque o próprio Senhor irá vivificá-los primeiramente. O ato de crer é resultado de uma ação prévia de Cristo, isto é, a ação da vivificação. A voz de Cristo soará aos ouvidos DAQUELES MORTOS QUE ELE QUER VIVIFICAR de uma forma eficaz e poderosa. É a voz de Cristo que dará vida aos mortos espirituais(Jo 5:21). É referindo-se a Cristo que o apóstolo Paulo afirma: "E nos VIVIFICOU estando nós mortos em delitos e pecados"(Ef 2:1). A bíblia não se contradiz, o homem não pode ouvir(crer) sem primeiramente a ação vivificadora de Cristo o tocar.

3. O que acontecerá quando os mortos ouvirem?

Resposta: Como já dito, a voz do Cristo ressoará de forma vivificante dando vida aos mortos; estes ouvirão a voz do Cristo, e, ressurgindo de sua morte, viverão. Em outras palavras, esses mortos serão salvos. Note que tudo parte primeiramente de Cristo, e não do próprio morto. A voz de Cristo atua de forma eficaz no coração do homem natural o qual o Senhor pretende vivificar, e por consequência disto, o homem crê. Porém, a voz de Cristo não tem a mesma intenção salvífica quando é falada ao coração do não-eleito, ou seja, no coração daqueles que o Senhor não irá vivificar. Hoje, a voz de Cristo ecoa através da mensagem do evangelho e tem apenas o efeito salvífico e eficaz naqueles que Ele elegeu; nos demais, a voz de Cristo é cheiro de morte e condenação(2 Co 2:16).

É bem verdade que existe a interpretação arminiana de uma graça preveniente sobre todos os homens que os regeneram parcialmente capacitando-os a terem fé . Entretanto, tal ensino é incoerente, portanto, anti-bíblico. Não oferecerei aqui uma refutação de tal ensino; já fiz isto quando escrevi o texto intitulado "A incoerência da graça preveniente e da regeneração parcial no arminianismo. Há também outros textos que  podem servir como defesa da soteriologia calvinista aqui em meu blog. Desta forma, podemos concluir afirmando que o texto de João 5:25 não oferece nenhum fundamento para as teorias pelagiana, semi-pelagiana e arminiana. A verdade da revelação em João 5:25 de fato diz que os mortos ouvirão e viverão, entretanto ouvirão mediante o poder vivificador do Filho. Como também, esses mortos os quais Cristo refere-se em João 5:25, são aqueles que O FILHO QUISER DE FORMA SOBERANA VIVIFICAR. Estes sim ouvirão mediante a vivificação, e viverão.

Solus Christus

Álvaro Rodrigues