quarta-feira, 15 de abril de 2015

O arminianismo e a salvação por graça e obras


Não é de hoje que os arminianos, buscando se esquivar das consequências negativas de sua soteriologia, reivindicam aos brados que sua teologia jamais ensinou  salvação por graça e também por obras. Esses arminianos argumentam que "  a salvação na soteriologia arminiana decorre, como ponto de partida, da ação da graça de Deus que capacita os homens para que estes se tornem aptos a responder positivamente a ordem do evangelho no que tange ao arrependimento". E acrescentam que  "é falso afirmar que a fé(não-resistir a graça), seja uma obra para salvação. Considerando tais argumentos, buscaremos respondê-los  demostrando que, de acordo com a escritura, a fé ou a não-resistência não são obras PARA a salvação, mas que ao mesmo tempo, tais ações são boas por definição, e que estas boas ações, no arminianismo, tornam-se a causa da eleição e salvação, e não a consequência.

É necessário primeiramente enfatizar a verdade de que a fé é um dom de Deus(Ef 2:8). Colocar a confiança em Cristo é uma capacidade dada por Deus, visto que o homem natural não pode exercer nenhuma boa ação para a salvação sem que antes o próprio Deus o capacite para tal. Esta verdade é crida não somente por calvinistas, mas é também aceita e defendida por arminianos. O que vai diferenciar os primeiros destes últimos é que, enquanto os primeiros(calvinistas) defendem que a aplicação da graça é irresistível naqueles que foram eleitos por Deus, estes últimos(arminianos) irão defender uma graça preveniente que pode ser resistida por todos. Já demostramos a incoerência da graça preveniente arminiana no texto "A incoerência da graça preveniente e da regeneração parcial no arminianismo " . E já fizemos uma breve defesa  da graça irresistível  e sua aplicação no ato salvífico no texto " Respostas à algumas objeções contrárias à doutrina da graça irresistível". 

Dirá o arminiano : " o ato de não resistir à graça não é uma obra para a salvação"

Resposta : A primeira coisa que devemos entender é que a ação de "não resistir a graça" é, por definição, uma boa obra, então quando se crê que somos salvos pelo fato de "não termos resistido" estamos colocando a causa de nossa salvação a essa boa ação que é "não resistir a graça". Desta forma , a salvação na cosmovisão arminiana é por graça e por boa obra, pois o não resistir é uma boa obra, e não uma má obra.  É no calvinismo que de fato a fé bíblica e a ação de não resistir não são obras  PARA alcançar a salvação. No arminianismo, a não-resistência e a fé tornam-se boas ações PARA se obter a salvação, e não boas ações como EFEITOS da eleição para a salvação. Ademais, a salvação no arminianismo sendo uma ação a priori de Deus, não muda o fato de que ainda assim a efetivação dela dependa totalmente da decisão do homem. Neste sentido, podemos entender que Deus precisa da ajuda do homem para que a salvação se torne efetiva. 

No calvinismo é diferente, a "não resistência" é consequência da eleição. Logo, quaisquer atitudes do homem(capacitado pela graça)  tais como fé, arrependimento, e não-resistência, não são tidas como as CAUSAS da salvação. A CAUSA única seria a SOBERANIA DE DEUS quando elegeu certos homens para a fé, a não-resistência e o arrependimento. De forma que, no calvinismo, a causa da salvação não é a boa ação da não-resistência, mas sim A ETERNA DECISÃO DE DEUS  de eleger para a boa ação da não-resistência. Como também, as ações de não-resistir, o arrependimento e a fé,  distinguem eleitos de não-eleitos. Estas ações demostram a eleição, o que é diferente de dizer que são CAUSAS DA ELEIÇÃO E SALVAÇÃO . Logo, não há salvação por boas ações no calvinismo. Já no arminianismo, essas boas ações CAUSAM A ELEIÇÃO de forma que a salvação é alcançada  por graça e boas ações.

Dirá o arminiano: " mas a fé nunca é vista na escritura como uma obra, mas sempre em oposição às obras".

Resposta: Claro, mas ela é sempre posta em oposição às boas obras  que eram tidas por alguns(em especial judeus) da igreja primitiva como as CAUSAS da salvação. Estas obras seriam o que o Apóstolo Paulo denomina de " obras da Lei"( Gl 3:10). Era da preocupação dos Apóstolos, em especial do Apóstolo Paulo, demostrar que a salvação não era confirmada pelo guardar da Lei, mas sim pela fé como dom e fruto da eleição(At 13:48, Ef 2:8). Entretanto, a fé salvífica é, por definição, uma boa ação que  leva inevitavelmente a outras BOAS ações as quais Deus também preparou para que, desde a fundação do mundo, andássemos nelas(Ef  2:10). Como já frisado aqui e em outros textos nossos,  é preciso notar que tais boas ações são resultados da ação prévia de Deus, o que se conhece por eleição. De forma que os arminianos jamais poderão acusar a soteriologia calvinista de defender  salvação por boa obra, visto que essas boas ações, na soteriologia calvinista, não são CAUSAS, mas efeitos da eleição .


O arminiano ainda poderá dizer : " Na teologia de Armínio, a graça preveniente é a causa última da resposta positiva ao evangelho". 

Resposta: Não. A causa última se encontra na volição positiva deste homem como resposta à ação capacitadora da graça preveniente. O papel da graça no arminianismo é capacitador. A graça preveniente é derramada sobre todos os homens para que estes se tornem capazes de crer em Cristo. Mas, a causa final da salvação se encontra na resposta destes homens, isto é, na não-resistência(obediência) ao evangelho. Na visão arminiana o homem é senhor de seu destino e eleição. Nesta visão, Deus não pode ser o Senhor da história, pois é apenas um sujeito que atua preso às decisões destes homens. Que tipo de Senhor da história é este que se encontra preso àquilo que os homens decidem?  Que tipo de soberania é esta que encontra-se algemada ao querer humano? E não adianta usar o argumento de que Deus limitou a sua soberania, pois não há nenhuma passagem bíblica que confirme isto; muito pelo contrário, existem várias passagens bíblicas que confirmam o governo soberano de Deus sobre todas as coisas(Is 46:10, Sl 115:3, Dn 4:35, Pv 21:1, 16:33 etc)


Conclusão

Desta maneira entendemos que :  em um sentido a fé não é obra, mas em outro sentido ela é sim uma obra. Ela é uma boa obra no sentido de que não é uma má ação crer que Cristo é o Salvador;  porém não é uma boa obra no sentido de ser uma  ação  humana e CAUSATIVA da salvação, mas sim uma boa atitude como um dom dado por Deus aos seus eleitos(Ef 2:8, At 13:48). Entendemos também que: sendo a ação de "não resistir a graça", por definição, uma boa obra, e ainda assim crermos que somos salvos pelo fato de "não termos resistido", estamos, desta forma, colocando a causa de nossa salvação a essa boa obra que é "não resistir a graça". De forma que, diante de tudo o que foi esclarecido, podemos logicamente concluir que a salvação na cosmovisão arminiana é POR GRAÇA E POR BOA OBRA.

Soli Deo Gloria

Álvaro Rodrigues